Publicado em 4 julho, 2022
Panificador e a missão de controlar o impossível
Talvez você, assim como eu, se surpreendeu com a Guerra Fria. Possivelmente, quando criança, delirou com as missões de 007 na tevê. Tomou queimadinha de leite com canela para curar o resfriado e prometeu para a mãe que não iria mais andar “de pé no chão”. E agora, nós, esses mesmos que vivemos tudo isso, nos surpreendemos com a barbárie de um conflito armado entre nações – dessa vez Rússia e Ucrânia, seguimos tentando entender como segurar as economia e o preço dos insumos desencadeados nesse efeito dominó e, infelizmente, os filmes de James Bond e as receitas milagrosas de família não fazem mais tanto sentido. O desafio agora é outro.
Na vida real, os últimos seis meses vieram com maré de alegrias e tsunami de objeções. Com o abrandamento da pandemia, o fluxo de clientes voltou, o ticket médio retomou em ritmos de crescimento e as lojas finalmente caminhavam para um cenário positivo. Aí veio a guerra do outro lado do mundo, mas que elevou em 40, 50% o preço da farinha. Isso sem falar nos demais insumos que aumentaram de preço, seja pela mudança de clima no polo norte ou por uma conjuntura nunca antes sinalizada no mercado. O desafio agora é controlar o impossível.
Te adianto que a missão é suicida. Isso é, se você quiser sair dessa com razão. Sabe aquele ditado “você quer ser feliz ou ter razão?”?. É isso. Se quiser ter uma racionalidade na atual perspectiva, se insistir em fazer tudo do mesmo jeito que fazia antes, se desejar incansavelmente manter tudo debaixo da asa. Vai dar errado. Vai brigar com todos os fornecedores, vai reclamar da equipe, vai se estressar com a família e daqui a pouco seus filhos vão se esconder no quarto porque o papai ou a mamãe só chegam bravos do trabalho. Agora se você, assim como eu, prefere ser feliz, adaptação é a chave. Eu sei que o preço da farinha não vai cair só porque eu gritei alto. Então eu prefiro ser estratégico, fazer o que está ao meu alcance, reorganizar minhas finanças e sair com os meus meninos para tomar sorvete no fim de semana. O desafio é aceitar que o impossível existe e que controlá-lo não cabe a mim.
Nas consultorias, temos trabalhado em nove pontos possíveis de serem executados e que trazem resultados efetivos. Eu poderia compartilhar uma lista infinita, mas nós dois sabemos que o que você precisa fazer é:
- Ter controle financeiro. Nada de achismos. Invista tempo em gestão.
- Ter informações técnicas sobre os produtos da loja e os custos relacionados.
- Fazer o alinhamento de preço dentro dos impactos dos insumos. Não tenha medo de repassar esse valor, pois você não vai conseguir segurar isso por muito tempo.
- Ajustar o tamanho do produto para que esteja alinhado ao ajuste de preço.
- Se houver um alinhamento grande do preço, buscar a inovação de produtos. Crie um rompimento de comparação entre os produtos da loja. Fragmente as percepções de preço e ao que elas estão associadas.
- Investir na valorização por meio de embalagens, exposição e acabamento. Isso não significa gastar mais, mas sim ser criativo.
- Trabalhar as datas sazonais. E não só as macro, como Dia das Mães e dos Namorados. Trabalhe novos argumentos de impacto de vendas, todos os dias.
- Provocar o cliente com intensificação da comunicação.
- Trabalhar a presença online como canal de vendas. Porque é aqui que está sua maior possibilidade de alcance.
Caso você ainda tenha alguma dúvida sobre esses pontos, sugiro que assista à live que deixei salva no perfil do Instagram e explico detalhadamente cada um deles. Lá tem exemplos práticos que vão te ajudar a colocar a mão na massa. O desafio agora é fazer o possível e fazer rápido.
Nesse Dia do Panificador, data tão importante para nossa história, reforço meu abraço carinhoso aos amigos do mercado e os tranquilizo: não estamos sozinhos. Eu ainda gostaria que o chá de poejo das nossas avós resolvesse mais do que uma gripe. Mas, infelizmente, o dono do moinho também não tem muitas alternativas. Ele possivelmente corria na padaria de chinelo para buscar o leite e pedir que anotassem na caderneta, e, assim como nós, saia com uma bala macia apertada na mão e que era aberta no cantinho da esquina para a mãe não brigar. O fato é que todos nós precisamos continuar reagindo e seguindo em frente. 007 – O mundo não é o bastante. Talvez nós devêssemos assistir de novo esse filme no fim de semana e nos lembrar porque somos, antes de tudo, nós mesmos.
Um abraço,
Emerson Amaral, empresário e diretor do Instituto de Desenvolvimento das Empresas de Alimentação @consultideal